Fonte: Administração Apostólica Pessoal São
João Maria Vianney. Vivendo a Quaresma. Campos dos Goytacazes – RJ: Edições
Apostólica, 2010.
1 – Durante a Sua vida terrena, Jesus
comprazeu-Se em esconder a divindade sob as aparências humanas, salvo raras
exceções, sobretudo nos trinta anos que precederam a Sua vida apostólica, nunca
deixou transparecer nada da Sua grandeza, sabedoria e onipotência infinitas.
Mais tarde, nos anos da vida pública, quis adaptar-se à maneira tão imperfeita
de viver e agir dos Seus apóstolos, Ele que lhes era infinitamente superior.
Jesus é verdadeiramente o Deus escondido e ensina-nos, com o Seu exemplo, o
valor da vida escondida.
[Pausa...]
Se queres imitar profundamente a humildade de
Jesus, deves participar da Sua vida oculta, encobrindo como Ele, tudo quanto
possa atrair a atenção e o louvor dos outros, escondendo tudo o que te possa
singularizar ou fazer notar, fugindo, tanto quanto te for possível, de qualquer
sinal de distinção. “Ama o viver desconhecido e ser tido por nada”, porque
assim serás mais semelhante a Jesus “que, sendo Deus, quis tomar a forma de
escravo e ser semelhante, no Seu exterior, a um homem qualquer”.
[Pausa...]
O próprio Jesus nos ensinou a prática da vida
escondida insistindo em que façamos o bem em segredo, sem ostentação, só para
agradar a Deus. Ensina-te assim a guardar segredo sobre a tua vida interior e
as tuas relações com Ele: “quando quiseres orar, entra no teu quarto e fecha a
porta”. Ensina-te ainda a ocultar aos outros as tuas mortificações e
penitências: “quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto”; ensina-te
a não pores em evidência as tuas boas obras: “quando deres esmola, não saiba a
tua esquerda o que faz a direita, porque todos os que fazem as suas boas obras
diante dos homens para serem vistos por eles... já receberam a sua recompensa e
não terão a recompensa do Pai celeste” (cfr. Mt 6, 1-18).
[Pausa...]
2 – “Agir pura e unicamente para agradar a
Deus, sem nunca querer... o testemunho de olhares humanos”, foi o programa de
Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus, a Santa da vida escondida. Querendo
reservar unicamente para Deus o dom completo de si mesma, esforçou-se tanto
quanto pode, por esconder aos olhos das criaturas a riqueza da sua vida
interior, o heroísmo das suas virtudes, de modo que a sua vida foi a plena
realização do lema “viver só com Deus só”.
[Pausa...]
A alma que procura ainda a aprovação, o
louvor e a estima das criaturas, não vive só com Deus só, a sua vida interior
não poderá ser profunda, nem as suas relações com Deus muito íntimas. Esta alma
vive ainda à superfície. E assim preocupada com as aparências externas, com o
que os outros poderão pensar ou dizer dela, facilmente se deixará arrastar, na
sua maneira de proceder, pelo respeito humano, pelo desejo de conquistar a
benevolência e a estima alheias. Por isso, na sua conduta, faltará
frequentemente à simplicidade, à pureza de intenção, talvez mesmo à
sinceridade. O sobrenatural está nela ainda demasiado mesclado de humano para
que possa dominar a sua vida e, de fato, age muitas vezes, não para agradar a
Deus e para Lhe dar glória, mas para agradar aos homens, para conquistar-lhes o
afeto e alcançar uma posição mais ou menos honrosa.
[Pausa...]
Quando “nos surpreendermos a desejar o que brilha
– dizia Santa Tereza do Menino Jesus – enfileiremos humildemente entre os
imperfeitos e consideremo-nos almas fracas que Deus deve amparar a cada
instante”. E a própria Santa fazia para si este pedido: “Ó Jesus fazei que eu
seja calcada aos pés, esquecida como um grão de areia”.
[Pausa...]