“O pecado é uma falta contra a razão, a
verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e
para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a
natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como ‘uma
palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna’ ”(Catecismo da Igreja
Católica, n. 1849).
Deus criou o homem a partir da infinita
sabedoria e liberdade típicas do Deus único e verdadeiro; o homem criado para
viver e existir segundo a suprema Lei de seu Criador. O homem era feliz, não
sofria, não morria e vivia em perfeita paz com tudo e com todos e também com o seu
Senhor e Criador. Não lhe faltava nada, mas tudo possuía em abundância segundo
a natureza humana. E Deus gostava disso e via que isso era bom.
Dissociando sua liberdade da justiça e da
verdade, o homem rompe com seu Criador, torna-se arbitrário e inimigo de Deus,
desejando evoluir de criatura para Senhor de todos e de tudo – como se possível
fosse -, e assim incorre na sua mais brutal e cruel arrogância; desejando ser
Deus, mas seguindo a invejosa e decaída criatura do Tentador.
De dominador sobre as aves do céu, sobre os
peixes do mar e sobre toda a terra, o homem será, a partir de então, um ser
humilhado, perturbado, envergonhado e até mesmo rebaixado. Receberá a zombaria
e o deboche do Tentador, que lhe lançará na cara que não tens grandes poderes
sobre a terra, embora tivesse mentirosamente dito anteriormente que o homem
poderia ser Deus. O que o diabo não conseguiu para si, enganou o homem dizendo
que este poderia conseguir se seguisse as recomendações daquele ser decaído,
sofrido, derrotado e desapontado.
Deus fez o homem livre e gostou disso e dizia
que isto era bom. Não retirou a liberdade humana, deixou o homem se esfacelar.
Mas, sendo onipotente e onisciente que é, oferecerá ao homem a oportunidade de
resgate e retorno à primitiva felicidade, e ainda evoluída para uma felicidade
eterna da qual ninguém nunca mais poderá decair, desmascarando o homem e o
diabo, e impondo a ambos que somente Ele é Deus e Senhor e somente Ele pode
oferecer a satisfação. Aos revoltados que não desejarem regressar ao lugar do
qual foram tirados, restar-lhes-á o papel de servidores das cortes demoníacas,
tão perversas quanto tristes e aborrecidas.
As
consequências do pecado e o resgate
Disse Deus à mulher: “Multiplicarei os
sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para
o teu marido e tu estarás sob o seu domínio” (Gn 3, 16).
E ao homem disse: “Porque ouviste a voz de
tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita
seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento
todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a
erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à
terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3, 17-19).
São as dramáticas e tristes consequências do
pecado, que desafiarão a vida terrena do homem, que fará tudo para as
contornar, mas somente será plenamente libertado quando passar da vida presente
para melhor. Deus não as desejou, mas as permitiu. Porém, entre as
consequências do pecado existe também o resgate ou remissão. Ofereceu-nos o
Senhor, mas somente para os que livremente aceitarem, isto é, para quem quiser
reatar sua liberdade à justiça e à verdade:
“No Verbo havia vida, e a vida era a luz dos
homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam... Mas a
todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de
se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.” (cfr. Jo 1, 4-13).
“... a Lei foi dada por Moisés, enquanto a
graça e a verdade vieram juntamente com o próprio Verbo” (cfr. Jo 1, 17).
A
nova vida
A vida na graça é a nova vida que nos fora
oferecida por meio do resgate do sacrifício do calvário - hóstia pura, santa e
imaculada oferecida a Deus pelo sacerdote puro, santo e imaculado, Jesus Cristo
-, que a todos oferece o renascimento, desta vez um nascimento de Deus, que
concede a força para o cumprimento da Lei Divina emanada por Ele, cuja vontade
e ordem fora descumprida nas origens a favor de uma mentira. É por isso que no
Batismo recebemos a veste nupcial da graça, que nos une a Deus como filhos. Que
bom seria se mantivéssemos tão preciosa veste puríssima! Agora somos criaturas
novas com vida nova, por meio do sacrifício de Jesus Cristo!
As
quedas e reincidências
“Na
raiz das lacerações pessoais e sociais, que ofendem em vária medida o valor
e a dignidade da pessoa humana, encontra-se uma ferida no íntimo do homem:
‘À luz da fé chamamos-lhe pecado: a começar do pecado
original, que cada um traz consigo desde o
nascimento, como uma herança recebida dos primeiros pais, até ao pecado
que cada um comete, abusando da própria liberdade’ (João Paulo II,
Reconciliatio et
paenitentia, 2).
A
consequência do pecado, enquanto ato de separação
de Deus, é precisamente a alienação, isto é, a ruptura do homem não só
com Deus, como também consigo mesmo, com os demais homens e
com o mundo circunstante: ‘A ruptura com Deus
desemboca dramaticamente na divisão entre os irmãos.
Na
descrição do ‘primeiro pecado’, a ruptura com Iahweh espedaçou, ao mesmo
tempo, o fio da amizade que unia a família humana; tanto assim que as
páginas do Gênesis que se seguem nos mostram o homem e a
mulher, como que a apontarem com o dedo
acusador um contra o outro; o irmão que, hostil ao irmão, acaba
por tirar-lhe a vida. Segundo a narração dos fatos de Babel, a consequência
do pecado é a desagregação da família humana, que já começara
com o primeiro pecado e agora chega ao extremo na sua
forma social’ (João Paulo II, Reconciliatio et paenitentia, 15). Refletindo
sobre o mistério do pecado, não se pode deixar de considerar
esta trágica concatenação de causa e efeito.” (Compêndio da Doutrina Social da
Igreja, n. 116).
“O
mistério do pecado se compõe de uma dúplice ferida, que o pecador abre no
seu próprio flanco e na relação com o próximo. Por isso se
pode falar de pecado
pessoal e social: todo pecado é pessoal sob um aspecto; sob
outro aspecto, todo
pecado é social, enquanto e porque tem também consequências
sociais.
O
pecado, em sentido verdadeiro e próprio, é sempre um ato da pessoa,
porque é um ato de liberdade de um
homem, individualmente considerado, e não propriamente de um grupo
ou de uma comunidade, mas a cada pecado se pode atribuir indiscutivelmente
o caráter de pecado social, tendo em conta o fato de que ‘em
virtude de uma solidariedade humana tão misteriosa e
imperceptível quanto real e concreta, o pecado de cada um
repercute, de algum modo, sobre os outros’ (João Paulo II, Reconciliatio et paenitentia,
16).” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 117).
Não te esqueças meu irmão que qualquer pecado
que cometas estás a gerar um verdadeiro inferno. Não te esqueças que os outros
também são vítimas de teus pecados. E lembre-te que o Criador e único Senhor te
cobrará das graças desperdiçadas, da falta de vigilância e oração, da
dissipação que fizeste dos teus bens, da opulência que esbanjaste diante da
miséria e pobreza de teu irmão que recusaste socorrer - não a título de
caridade ou bela iniciativa, mas a título de justiça -, dos momentos em que
estavas pecando, ostentando, vivendo no luxo, vangloriando-se, cheio de vaidades
e sensualidades, tirando onda diante de teu próximo, humilhando ainda mais os
oprimidos, esquecendo-te dos doentes, entregando-te às paixões desordenadas, à
impureza, às extravagâncias, aos vícios, enquanto teu irmão mendigava
humilhado. Açambarcando os teus bens e matando de privação milhares de pessoas.
Transformando a terra num prostíbulo, profanando a Igreja do Senhor e, estando louco,
dormias em teu travesseiro como se nada de mal estivesse cometendo...
Ponhamos mão em nossa consciência: É-nos
justo esbanjar, dissipar e aprazermos em delícias e paixões, enquanto a outros
não é reconhecido o mínimo de dignidade humana? Pois bem, o justo Juiz nos chamará
e deveremos nos lembrar dos destinos do pobre Lázaro e do rico opulão!
Lembra-te de orientar tua liberdade para o
que é justo e verdadeiro, pois um dia serás julgado por um Juiz que faz justiça
e que é a própria verdade. Assim, terás os Mandamentos em estima e desejarás a
graça para cumpri-los todos.
Lembra-te dos Mandamentos do Senhor para que
a terra e a Igreja de Deus possam também gozar de alguma paz, pois somos todos
responsáveis pelos seus males, e também aqui seremos castigados se não nos
emendarmos:
“Não fareis ídolos. Não levantareis estátuas
nem estelas. Não poreis em vossa terra pedra alguma adornada de figuras, para
vos prostrardes diante dela, porque eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardareis os
meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor. Se seguirdes
minhas leis e guardardes os meus preceitos e os praticardes, eu vos darei a
chuva nos seus tempos. A terra dará o seu produto e as árvores da terra se
carregarão de frutos. A debulha do trigo se estenderá até a colheita da uva, e
a colheita da uva até a sementeira; comereis o vosso pão à saciedade, e
habitareis em segurança na vossa terra. Darei paz à vossa terra e vosso sono
não será perturbado. Afastarei da terra os animais nocivos, e a espada não
passará pela vossa terra. Quando perseguirdes os vossos inimigos, cairão sob
vossa espada. Cinco dentre vós perseguirão um cento, e cem dos vossos
perseguirão dez mil, e os vossos inimigos cairão sob vossa espada. Eu me
voltarei para vós, e vos farei crescer; eu vos multiplicarei e ratificarei a
minha aliança convosco. Comereis as colheitas antigas, bem conservadas, e
lançareis fora as velhas, para dar lugar às novas. Porei o meu tabernáculo no
meio de vós, e a minha alma não vos rejeitará. Andarei entre vós: serei vosso
Deus e vós sereis o meu povo. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do
Egito para livrar-vos da escravidão. Quebrei as cadeias de vosso jugo e vos fiz
andar com a cabeça erguida.
Mas se não me escutardes e não guardardes os
meus mandamentos, se desprezardes os meus preceitos e vossa alma aborrecer as
minhas leis, de sorte que não pratiqueis todos os meus mandamentos e violeis
minha aliança, eis como vos hei de tratar: enviarei terríveis flagelos sobre
vós: a tísica e a febre que enfraquecerão vossa vista e vos farão desfalecer.
Debalde semeareis a vossa semente, porque vossos inimigos a comerão. Voltarei
minha face contra vós e sereis vencidos pelos vossos inimigos: eles vos
dominarão, e fugireis sem que ninguém vos persiga. Se nem ainda assim me
ouvirdes, castigarei sete vezes mais pelos vossos pecados. Quebrarei o orgulho
de vosso poder, tornarei o vosso céu como ferro e a vossa terra como bronze.
Inutilmente se gastará a vossa força, pois vossa terra não dará os seus
produtos, e as árvores da terra não produzirão os seus frutos. Se me puserdes
obstáculos e não quiserdes ouvir-me, vos ferirei sete vezes mais, conforme os
vossos pecados. Mandarei contra vós as feras do campo, que devorarão vossos
filhos, matarão vossos animais e vos reduzirão a um pequeno número, de modo que
os vossos caminhos se tornarão desertos. Se apesar desses castigos não vos
quiserdes corrigir, e vos obstinardes em resistir-me, eu vos resistirei por
minha vez e vos ferirei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados. Farei
cair sobre vós a espada para vingar a minha aliança. Se vos ajuntardes em
vossas cidades, lançarei a peste no meio de vós e sereis entregues nas mãos de
vossos inimigos. Quando eu vos tirar o sustentáculo do pão, dez mulheres o
cozerão em um só forno e vo-lo entregarão por peso: comereis e não ficareis
saciados. Se, apesar disso, não me ouvirdes, e me resistirdes ainda, marcharei
contra vós em meu furor e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos
pecados. Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas. Destruirei
vossos lugares altos e quebrarei vossas imagens do sol; amontoarei vossos
cadáveres sobre os de vossos ídolos e minha alma vos abominará. Reduzirei a
deserto as vossas cidades, devastarei vossos santuários e não aspirarei mais o
suave odor de vossos perfumes. Desolarei vossa terra e vossos inimigos ficarão
estupefatos com ela quando a habitarem. Eu vos dispersarei entre as nações, e
desembainharei a espada atrás de vós; vossa terra será devastada e vossas
cidades se tornarão desertas.
Então gozará a terra os seus sábados enquanto
durar a sua solidão, quando estiverdes na terra de vossos inimigos; então a
terra gozará os seus sábados e repousará. Nos dias em que for devastada, ela
terá o repouso que não gozou nos sábados do tempo em que a habitáveis. Naqueles
dentre vós que sobreviverem, porei tal espanto em seus corações na terra de
seus inimigos, que o ruído de uma folha agitada pelo vento os porá em fuga:
fugirão como se foge diante da espada e cairão sem que ninguém os persiga. Sem
que ninguém os persiga, tropeçarão uns sobre os outros, como diante da espada.
Não podereis resistir diante de vossos inimigos. Perecereis entre as nações e a
terra inimiga vos consumirá. Os que sobreviverem definharão por causa de suas
iniquidades na terra de seus inimigos, e serão também consumidos por causa das
iniquidades de seus pais, que levarão sobre si. Eles confessarão, então, as
suas iniquidades e as de seus pais, as transgressões cometidas contra mim,
porque me resistiram; e, por isso, eu também lhes resisti e os levei para a
terra de seus inimigos. Se, então, humilharem o seu coração incircunciso e
sofrerem a pena de sua iniquidade, eu me lembrarei de minha aliança com Jacó,
de minha aliança com Isaac e com Abraão, e me lembrarei dessa terra. E, depois
que eles a tiverem deixado, essa terra gozará os seus sábados enquanto for
devastada longe deles; eles sofrerão a pena de suas iniquidades, porque
desprezaram os meus mandamentos e a sua alma feriu minhas leis. Apesar de tudo
isso, quando estiverem na terra de seus inimigos, não os rejeitarei, nem os
abominarei a ponto de exterminá-los e de romper minha aliança com eles; porque
eu sou o Senhor, seu Deus. Eu me lembrarei de minha aliança com seus pais,
quando os tirei do Egito à vista das nações, para ser o seu Deus. Eu sou o
Senhor.” (Lv 26, 1-45).