sábado, 11 de maio de 2019

Leitura Espiritual: O PECADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS


“O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como ‘uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna’ ”(Catecismo da Igreja Católica, n. 1849).

Deus criou o homem a partir da infinita sabedoria e liberdade típicas do Deus único e verdadeiro; o homem criado para viver e existir segundo a suprema Lei de seu Criador. O homem era feliz, não sofria, não morria e vivia em perfeita paz com tudo e com todos e também com o seu Senhor e Criador. Não lhe faltava nada, mas tudo possuía em abundância segundo a natureza humana. E Deus gostava disso e via que isso era bom.

Dissociando sua liberdade da justiça e da verdade, o homem rompe com seu Criador, torna-se arbitrário e inimigo de Deus, desejando evoluir de criatura para Senhor de todos e de tudo – como se possível fosse -, e assim incorre na sua mais brutal e cruel arrogância; desejando ser Deus, mas seguindo a invejosa e decaída criatura do Tentador.

De dominador sobre as aves do céu, sobre os peixes do mar e sobre toda a terra, o homem será, a partir de então, um ser humilhado, perturbado, envergonhado e até mesmo rebaixado. Receberá a zombaria e o deboche do Tentador, que lhe lançará na cara que não tens grandes poderes sobre a terra, embora tivesse mentirosamente dito anteriormente que o homem poderia ser Deus. O que o diabo não conseguiu para si, enganou o homem dizendo que este poderia conseguir se seguisse as recomendações daquele ser decaído, sofrido, derrotado e desapontado.

Deus fez o homem livre e gostou disso e dizia que isto era bom. Não retirou a liberdade humana, deixou o homem se esfacelar. Mas, sendo onipotente e onisciente que é, oferecerá ao homem a oportunidade de resgate e retorno à primitiva felicidade, e ainda evoluída para uma felicidade eterna da qual ninguém nunca mais poderá decair, desmascarando o homem e o diabo, e impondo a ambos que somente Ele é Deus e Senhor e somente Ele pode oferecer a satisfação. Aos revoltados que não desejarem regressar ao lugar do qual foram tirados, restar-lhes-á o papel de servidores das cortes demoníacas, tão perversas quanto tristes e aborrecidas.

As consequências do pecado e o resgate

Disse Deus à mulher: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio” (Gn 3, 16).

E ao homem disse: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3, 17-19).

São as dramáticas e tristes consequências do pecado, que desafiarão a vida terrena do homem, que fará tudo para as contornar, mas somente será plenamente libertado quando passar da vida presente para melhor. Deus não as desejou, mas as permitiu. Porém, entre as consequências do pecado existe também o resgate ou remissão. Ofereceu-nos o Senhor, mas somente para os que livremente aceitarem, isto é, para quem quiser reatar sua liberdade à justiça e à verdade:

“No Verbo havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam... Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.” (cfr. Jo 1, 4-13).

“... a Lei foi dada por Moisés, enquanto a graça e a verdade vieram juntamente com o próprio Verbo” (cfr. Jo 1, 17).

A nova vida

A vida na graça é a nova vida que nos fora oferecida por meio do resgate do sacrifício do calvário - hóstia pura, santa e imaculada oferecida a Deus pelo sacerdote puro, santo e imaculado, Jesus Cristo -, que a todos oferece o renascimento, desta vez um nascimento de Deus, que concede a força para o cumprimento da Lei Divina emanada por Ele, cuja vontade e ordem fora descumprida nas origens a favor de uma mentira. É por isso que no Batismo recebemos a veste nupcial da graça, que nos une a Deus como filhos. Que bom seria se mantivéssemos tão preciosa veste puríssima! Agora somos criaturas novas com vida nova, por meio do sacrifício de Jesus Cristo!

As quedas e reincidências

“Na raiz das lacerações pessoais e sociais, que ofendem em vária medida o valor e a dignidade da pessoa humana, encontra-se uma ferida no íntimo do homem: ‘À luz da fé chamamos-lhe pecado: a começar do pecado original, que cada um traz consigo desde o nascimento, como uma herança recebida dos primeiros pais, até ao pecado que cada um comete, abusando da própria liberdade’ (João Paulo II, Reconciliatio et paenitentia, 2).

A consequência do pecado, enquanto ato de separação de Deus, é precisamente a alienação, isto é, a ruptura do homem não só com Deus, como também consigo mesmo, com os demais homens e com o mundo circunstante: ‘A ruptura com Deus desemboca dramaticamente na divisão entre os irmãos.

Na descrição do ‘primeiro pecado’, a ruptura com Iahweh espedaçou, ao mesmo tempo, o fio da amizade que unia a família humana; tanto assim que as páginas do Gênesis que se seguem nos mostram o homem e a mulher, como que a apontarem com o dedo acusador um contra o outro; o irmão que, hostil ao irmão, acaba por tirar-lhe a vida. Segundo a narração dos fatos de Babel, a consequência do pecado é a desagregação da família humana, que já começara com o primeiro pecado e agora chega ao extremo na sua forma social’ (João Paulo II, Reconciliatio et paenitentia, 15). Refletindo sobre o mistério do pecado, não se pode deixar de considerar esta trágica concatenação de causa e efeito.” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 116).

“O mistério do pecado se compõe de uma dúplice ferida, que o pecador abre no
seu próprio flanco e na relação com o próximo. Por isso se pode falar de pecado
pessoal e social: todo pecado é pessoal sob um aspecto; sob outro aspecto, todo
pecado é social, enquanto e porque tem também consequências sociais.


O pecado, em sentido verdadeiro e próprio, é sempre um ato da pessoa, porque é um ato de liberdade de um homem, individualmente considerado, e não propriamente de um grupo ou de uma comunidade, mas a cada pecado se pode atribuir indiscutivelmente o caráter de pecado social, tendo em conta o fato de que ‘em virtude de uma solidariedade humana tão misteriosa e imperceptível quanto real e concreta, o pecado de cada um repercute, de algum modo, sobre os outros’ (João Paulo II, Reconciliatio et paenitentia, 16).” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 117).

Não te esqueças meu irmão que qualquer pecado que cometas estás a gerar um verdadeiro inferno. Não te esqueças que os outros também são vítimas de teus pecados. E lembre-te que o Criador e único Senhor te cobrará das graças desperdiçadas, da falta de vigilância e oração, da dissipação que fizeste dos teus bens, da opulência que esbanjaste diante da miséria e pobreza de teu irmão que recusaste socorrer - não a título de caridade ou bela iniciativa, mas a título de justiça -, dos momentos em que estavas pecando, ostentando, vivendo no luxo, vangloriando-se, cheio de vaidades e sensualidades, tirando onda diante de teu próximo, humilhando ainda mais os oprimidos, esquecendo-te dos doentes, entregando-te às paixões desordenadas, à impureza, às extravagâncias, aos vícios, enquanto teu irmão mendigava humilhado. Açambarcando os teus bens e matando de privação milhares de pessoas. Transformando a terra num prostíbulo, profanando a Igreja do Senhor e, estando louco, dormias em teu travesseiro como se nada de mal estivesse cometendo...

Ponhamos mão em nossa consciência: É-nos justo esbanjar, dissipar e aprazermos em delícias e paixões, enquanto a outros não é reconhecido o mínimo de dignidade humana? Pois bem, o justo Juiz nos chamará e deveremos nos lembrar dos destinos do pobre Lázaro e do rico opulão!

Lembra-te de orientar tua liberdade para o que é justo e verdadeiro, pois um dia serás julgado por um Juiz que faz justiça e que é a própria verdade. Assim, terás os Mandamentos em estima e desejarás a graça para cumpri-los todos.

Lembra-te dos Mandamentos do Senhor para que a terra e a Igreja de Deus possam também gozar de alguma paz, pois somos todos responsáveis pelos seus males, e também aqui seremos castigados se não nos emendarmos:

“Não fareis ídolos. Não levantareis estátuas nem estelas. Não poreis em vossa terra pedra alguma adornada de figuras, para vos prostrardes diante dela, porque eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor. Se seguirdes minhas leis e guardardes os meus preceitos e os praticardes, eu vos darei a chuva nos seus tempos. A terra dará o seu produto e as árvores da terra se carregarão de frutos. A debulha do trigo se estenderá até a colheita da uva, e a colheita da uva até a sementeira; comereis o vosso pão à saciedade, e habitareis em segurança na vossa terra. Darei paz à vossa terra e vosso sono não será perturbado. Afastarei da terra os animais nocivos, e a espada não passará pela vossa terra. Quando perseguirdes os vossos inimigos, cairão sob vossa espada. Cinco dentre vós perseguirão um cento, e cem dos vossos perseguirão dez mil, e os vossos inimigos cairão sob vossa espada. Eu me voltarei para vós, e vos farei crescer; eu vos multiplicarei e ratificarei a minha aliança convosco. Comereis as colheitas antigas, bem conservadas, e lançareis fora as velhas, para dar lugar às novas. Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos rejeitará. Andarei entre vós: serei vosso Deus e vós sereis o meu povo. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito para livrar-vos da escravidão. Quebrei as cadeias de vosso jugo e vos fiz andar com a cabeça erguida.

Mas se não me escutardes e não guardardes os meus mandamentos, se desprezardes os meus preceitos e vossa alma aborrecer as minhas leis, de sorte que não pratiqueis todos os meus mandamentos e violeis minha aliança, eis como vos hei de tratar: enviarei terríveis flagelos sobre vós: a tísica e a febre que enfraquecerão vossa vista e vos farão desfalecer. Debalde semeareis a vossa semente, porque vossos inimigos a comerão. Voltarei minha face contra vós e sereis vencidos pelos vossos inimigos: eles vos dominarão, e fugireis sem que ninguém vos persiga. Se nem ainda assim me ouvirdes, castigarei sete vezes mais pelos vossos pecados. Quebrarei o orgulho de vosso poder, tornarei o vosso céu como ferro e a vossa terra como bronze. Inutilmente se gastará a vossa força, pois vossa terra não dará os seus produtos, e as árvores da terra não produzirão os seus frutos. Se me puserdes obstáculos e não quiserdes ouvir-me, vos ferirei sete vezes mais, conforme os vossos pecados. Mandarei contra vós as feras do campo, que devorarão vossos filhos, matarão vossos animais e vos reduzirão a um pequeno número, de modo que os vossos caminhos se tornarão desertos. Se apesar desses castigos não vos quiserdes corrigir, e vos obstinardes em resistir-me, eu vos resistirei por minha vez e vos ferirei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados. Farei cair sobre vós a espada para vingar a minha aliança. Se vos ajuntardes em vossas cidades, lançarei a peste no meio de vós e sereis entregues nas mãos de vossos inimigos. Quando eu vos tirar o sustentáculo do pão, dez mulheres o cozerão em um só forno e vo-lo entregarão por peso: comereis e não ficareis saciados. Se, apesar disso, não me ouvirdes, e me resistirdes ainda, marcharei contra vós em meu furor e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados. Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas. Destruirei vossos lugares altos e quebrarei vossas imagens do sol; amontoarei vossos cadáveres sobre os de vossos ídolos e minha alma vos abominará. Reduzirei a deserto as vossas cidades, devastarei vossos santuários e não aspirarei mais o suave odor de vossos perfumes. Desolarei vossa terra e vossos inimigos ficarão estupefatos com ela quando a habitarem. Eu vos dispersarei entre as nações, e desembainharei a espada atrás de vós; vossa terra será devastada e vossas cidades se tornarão desertas.

Então gozará a terra os seus sábados enquanto durar a sua solidão, quando estiverdes na terra de vossos inimigos; então a terra gozará os seus sábados e repousará. Nos dias em que for devastada, ela terá o repouso que não gozou nos sábados do tempo em que a habitáveis. Naqueles dentre vós que sobreviverem, porei tal espanto em seus corações na terra de seus inimigos, que o ruído de uma folha agitada pelo vento os porá em fuga: fugirão como se foge diante da espada e cairão sem que ninguém os persiga. Sem que ninguém os persiga, tropeçarão uns sobre os outros, como diante da espada. Não podereis resistir diante de vossos inimigos. Perecereis entre as nações e a terra inimiga vos consumirá. Os que sobreviverem definharão por causa de suas iniquidades na terra de seus inimigos, e serão também consumidos por causa das iniquidades de seus pais, que levarão sobre si. Eles confessarão, então, as suas iniquidades e as de seus pais, as transgressões cometidas contra mim, porque me resistiram; e, por isso, eu também lhes resisti e os levei para a terra de seus inimigos. Se, então, humilharem o seu coração incircunciso e sofrerem a pena de sua iniquidade, eu me lembrarei de minha aliança com Jacó, de minha aliança com Isaac e com Abraão, e me lembrarei dessa terra. E, depois que eles a tiverem deixado, essa terra gozará os seus sábados enquanto for devastada longe deles; eles sofrerão a pena de suas iniquidades, porque desprezaram os meus mandamentos e a sua alma feriu minhas leis. Apesar de tudo isso, quando estiverem na terra de seus inimigos, não os rejeitarei, nem os abominarei a ponto de exterminá-los e de romper minha aliança com eles; porque eu sou o Senhor, seu Deus. Eu me lembrarei de minha aliança com seus pais, quando os tirei do Egito à vista das nações, para ser o seu Deus. Eu sou o Senhor.” (Lv 26, 1-45).