domingo, 19 de maio de 2019

Meditação: O PECADO


Fonte: Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Vivendo a Quaresma. Campos dos Goytacazes – RJ: Edições Apostólica, 2010.

1 – A essência da perfeição cristã consiste na união com Deus por meio da caridade. Mas, enquanto a caridade, conformando a nossa vontade com a vontade divina, nos une a Deus, o pecado grave, opondo-se diretamente à vontade de Deus, produz o efeito contrário. Por outras palavras, a caridade é a força que une o homem a Deus, e o pecado é a força que o separa de Deus.

[Pausa...]

O pecado grave é, assim, o maior inimigo da vida espiritual, pois não só atenta contra ela, mas destrói-a nos seus elementos constitutivos, caridade e graça. E esta destruição, esta morte espiritual, é a inevitável consequência do pecado, ato com que o homem se separa voluntariamente de Deus, única fonte de vida, de caridade e de graça. Como o ramo não pode viver separado do tronco, assim a alma não pode viver separada de Deus.

[Pausa...]

Se Deus, como causa de todo o ser, está sempre presente na alma do pecador – do mesmo modo como está presente em todas as coisas – contudo não está como Pai, como Hóspede, como Trindade que Se oferece à alma como objeto de conhecimento e amor. Assim a alma, criada para ser templo da Santíssima Trindade, tornou-se voluntariamente incapaz de viver em sociedade com as três Pessoas divinas, fechou ela própria o caminho para a união com Deus e, por assim dizer, constrange Deus a cortar as relações de amizade com ela. E tudo isto por ter preferido o bem limitado e caduco duma criatura miserável, duma satisfação egoísta, dum prazer terreno, ao sumo Bem que é Deus. Eis a malícia do pecado, que repudia o dom divino, que atraiçoa o Criador, o Pai, o Amigo.

[Pausa...]

2 – Se quisermos compreender melhor a malícia do pecado mortal, devemos considerar os seus efeitos desastrosos. Um só pecado transformou Lúcifer, num instante, de anjo de luz em anjo das trevas, em inimigo eterno de Deus. Um só pecado destituiu Adão e Eva do estado de graça e de amizade com Deus, privando-os de todos os dons sobrenaturais e preternaturais, condenando-os à morte e, com eles, toda a humanidade. Um só pecado bastou para cavar um abismo entre Deus e os homens, para impedir ao gênero humano toda a possibilidade de união com Deus.

[Pausa...]

Porém, mais que tudo isto, a Paixão de Jesus diz-nos a grande malícia e a força destruidora do pecado. Os membros dilacerados de Cristo e a Sua dolorosíssima morte de cruz dizem-nos que o pecado é uma espécie de deicídio. Por causa dos nossos pecados, Jesus, o mais formoso dos filhos dos homens, tornou-Se “desprezado, o último dos homens, um homem de dores... Foi ferido por causa das nossas iniquidades” de tal modo que “desde a planta do pé até ao alto da cabeça não há nele nada são” (Is 53, 3-5; 1, 6). O pecado martirizou Cristo e conduziu-o à morte, mas no entanto, Cristo foi para a Paixão e para a morte “porque ele mesmo quis”, porque com Sua morte quis destruir o pecado e restabelecer o homem na amizade divina.

[Pausa...]

Jesus, nossa Cabeça, convida-nos a nós, Seus membros, a associarmo-nos à Sua obra destruidora do pecado: destruí-lo em nós até às suas mais profundas raízes, ou seja, nas suas más tendências, e destruí-lo também nos outros membros. Esta é uma lei de solidariedade, pois que o mal de um é o mal do outro porque cada pecado pesa sobre todo o mundo e tenta deslocar o seu eixo de Deus. Por isso cada cristão – especialmente a alma consagrada a Deus – deve sentir-se profundamente interessado nesta luta contra o pecado e deve combatê-lo com os meios apropriados: com a penitência, com a oração expiatória e sobretudo com o amor. O amor de caridade, se é perfeito, destrói melhor o pecado que o fogo do purgatório, mesmo sem manifestação externa. Eis porque todos os santos puderam converter tantas almas; Deus serviu-Se do fogo da sua caridade para destruir o pecado nos pecadores.

[Pausa...]