terça-feira, 14 de maio de 2019

Manifesto TRADICIONALISMO E CATOLICISMO nº 1/2019 – Sobre o movimento Tradicionalismo e Catolicismo


Santo Antônio de Pádua – RJ, 14 de maio de 2019

1) Tem como objetivo geral promover o Catolicismo Tradicional e a Moral, opondo-se ao progressismo religioso e ao modernismo teológico.

1. Definições

2) Tradição: 1 herança cultural passada oralmente através das gerações; 2 conjunto dos valores religiosos, morais, espirituais etc, transmitidos de geração em geração.

Tradicionalismo: forte ligação com as tradições. Mobilidade que se propõe à defesa da Tradição.

Tradição Católica: O conjunto de tudo aquilo que sempre fora objeto de Fé definitiva, ou sempre fora tido como necessário à salvação eterna, ou sempre fora tido como necessário para manutenção da Fé Católica e Apostólica; explícito na profissão de Fé, ou implícito na práxis constante, ou na maneira de ser, da Igreja; crido e conservado por todos os católicos dispersos pelo mundo, ou pelo consenso universal dos fiéis da Igreja Católica; em todas as épocas e em todos os lugares; ainda que não esteja contido na Escritura Sagrada (Bíblia) e ainda que não tenha sido declarado em juízo solene pelo Magistério Eclesiástico. Juntamente com a Sagrada Escritura, a Tradição constitui parte da Revelação Divina, e fora transmitida pelos Apóstolos daquilo que receberam dos ensinamentos ou exemplos de Jesus Cristo ou sob moção do Espírito Santo. Ela é objeto de conservação e transmissão pela Igreja Católica: “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 8). Esta Tradição (com “T” maiúsculo) se distingue das tradições eclesiásticas católicas pelo caráter definitivo, dogmático e estável da primeira e pela transitoriedade, não obrigatoriedade, ou reformabilidade destas últimas.

“E na própria Igreja Católica deve-se procurar a todo custo que nos atenhamos ao que, em toda a parte, sempre e por todos foi professado como de fé, pois isto é próprio e verdadeiramente católico, como o diz a índole mesma do vocábulo, que abarca a globalidade das coisas. Ora obtê-lo-emos se seguirmos a universalidade, a antiguidade e o consentimento. Pois bem: seguiremos a universalidade se professarmos como única fé a que é professada em todo o orbe da terra pela Igreja inteira; a antiguidade, se não nos afastarmos do sentir manifesto de nossos santos pais e antepassados; enfim, o consentimento, se na mesma antiguidade recorrermos às sentenças e resoluções de todos ou quase todos os sacerdotes e mestres” (S. Vicente de Lérins, Comonitório: NABETO, C. M. A Fé Cristã Primitiva, n. 302).

2. Alguns posicionamentos

3) Não se reconhece o progressismo como verdadeiro catolicismo.

4) Uma pessoa taxada de “progressista” pode ser mais católica que outra taxada de “tradicionalista”, porém uma Igreja progressista jamais, e em hipótese alguma, é mais católica que uma Igreja tradicionalista. São duas Igrejas necessariamente distintas em Fé, Doutrina, Moral, Liturgia, Espiritualidade etc – não são unidas.

5) A ortodoxia de uma Igreja, seja ela tradicionalista ou seja ela progressista, se julga pela Fé professada e vivida nos atos comuns (ou comunitários) [os atos da comunidade eclesial têm que ser coerentes com a Fé professada], pelo ensino da Doutrina Católica e pela sua prática em comunidade, ou, pelo modo de ser institucional ou institucionalizado.

Tanto se for progressista quanto se for tradicionalista, se institucionalmente decair da Fé, ou não ensinar ou não praticar institucionalmente a Doutrina Tradicional da Igreja Católica, ou se vier a tornar-se um lugar sagrado tomado pela abominação da desolação e pela profanação sistêmica, então não pode ser considerada Igreja verdadeira, ainda que sua sucessão apostólica seja válida. Então, ter-se-ia uma falsa Igreja católica.

Porque já está prevista a Grande Profanação do lugar santo, isto é, do templo de Israel, da Jerusalém judaica, dos templos católicos e a queda de inúmeras Igrejas orientais e ocidentais, outrora verdadeiramente católicas - que passam a ser dominadas pelos pagãos, infiéis, modernistas infiltrados e demônios (destruidores da religião, do templo, da Liturgia e dos lugares e coisas sagradas) - “morada dos demônios, prisão dos espíritos imundos e das aves impuras e abomináveis” (Ap 18, 2). As grandes profanações anunciam o fim do mundo, mas também o extermínio de um povo por outro ao longo da história. A Igreja continuará em algum lugar, mas muitos povos e Estados serão exterminados e também perderão a Fé:

“E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará... Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9, 27) – o leitor entenda bem -, então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas... Então, se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isso fosse possível, até mesmo os escolhidos. Eis que estais prevenidos. Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais... Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres” (Mt 24, 12-28, grifo nosso).

Quando virdes a abominação da desolação no lugar onde não deve estar – o leitor entenda -, então os que estiverem na Judéia fujam para os montes... E se então alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo; ou: Ei-lo acolá, não creiais. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e portentos para seduzir, se possível for, até os escolhidos. Ficai de sobreaviso. Eis que vos preveni de tudo.” (Mc 13, 14-23, grifo nosso).

Quando virdes que Jerusalém foi sitiada por exércitos, então sabereis que está próxima a sua ruína. Os que então se acharem na Judéia fujam para os montes... e Jerusalém será pisada pelos pagãos, até se completarem os tempos das nações pagãs” (Lc 21, 20-24, grifo nosso).

“Ouvi outra voz do céu que dizia: Meu povo, sai de seu meio para que não participes de seus pecados e não tenhas parte nas suas pragas, porque seus pecados se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das suas injustiças.” (Ap 18, 4-5, grifo nosso).

Deus jamais tolera a profanação (Lv 10, 1-11; Mt 21, 12-13; Mc 11, 15-17; Lc 19, 45-46; Jo 2, 13-17; 1 Cor 11, 17-34 etc), e por isso, manda que Seu povo saia imediatamente, abandone rapidamente e sem escrúpulos o lugar santo sistematicamente profanado, conforme visto acima. O mesmo valendo para a Liturgia e atos de culto.

6) Não existe Igreja tradicionalista. O termo “tradicionalista” fora inventado para designar ou diferenciar aqueles que desejavam permanecer fiéis à Tradição Católica daqueles que promoviam reformas radicais e destrutivas dentro das instituições católicas. Estes últimos passaram a ser conhecidos por “progressistas”, que em nome de progresso, adaptação aos tempos modernos, abertura ao mundo, desenvolvimento e evolução, não respeitaram nem a imutável Doutrina da Fé, o Culto oferecido a Deus, os lugares santos, e, ao invés, promoveram suas reformas destrutivas da religião católica, isto é, a “auto-demolição da Igreja” e a destruição da tradicional maneira de ser da Igreja. Tradicionalistas são os que se recusaram a reformar e destruir o catolicismo e o ser da Igreja Católica, fazendo frente e oposição aos progressistas. Igreja tradicionalista não é outra coisa senão a continuidade no tempo da Igreja pré-Concílio Vaticano II. Como as radicais reformas progressistas foram apoiadas por autoridades eclesiásticas do Vaticano e mesmo por Papas, obviamente isto suscitou nos tradicionalistas uma postura de resistência, desobediência e afastamento em relação às autoridades romanas e a todos os que aderiam à destruição da Igreja Católica.

7) Nem todas as reformas são inadmissíveis, senão aquelas que, piorando o estado das coisas, violam o dogma, a Moral – fazendo sucumbir a Fé e desacreditando a Revelação Divina -, prejudicam a salvação eterna das almas, induzem e encorajam as pessoas a cometerem pecados, relaxam e distraem as pessoas, destroem a piedade e o respeito para com Deus, profanam os atos de culto e os lugares sagrados – sacrilégios -, destroem as instituições da Igreja e ainda a desedificam, desqualificam-na e denigrem sua imagem no mundo o qual ela deveria salvar, transformando a seriedade da religião num passatempo, numa manifestação cultural, artística ou folclórica, ou numa brincadeira e deboche para com Deus.

8) Não é permitido a um católico ser um “caniço agitado pelo vento” e não se deve andar com as modas, pois a Igreja não tem modas, mas deve o católico fundamentar-se em sólida e imutável base doutrinária.

“Pois a doutrina da fé, que Deus revelou, não foi proposta como uma descoberta filosófica a ser aperfeiçoada pelas mentes humanas, mas foi entregue à Esposa de Cristo como um depósito divino, a ser por ela fielmente guardada e infalivelmente declarada. Daí que sempre se deve manter aquele sentido dos sagrados dogmas que a santa mãe Igreja uma vez declarou, e jamais, nem a título de uma inteligência mais elevada, é permitido afastar-se deste sentido. ‘Cresçam, pois, e multipliquem-se abundantemente, tanto em cada um como em todos, tanto no indivíduo como em toda a Igreja, segundo o progresso das idades e dos séculos, a inteligência, a ciência e a sabedoria, mas somente no gênero próprio dela, isto é, no mesmo dogma, no mesmo sentido e na mesma sentença’ (Vicente de Lérins, Commonitorium primum 23, n. 3).” (Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, 3ª sessão, 24 abr. 1870, cap. 4: Dezinger-Hünermann, 3020).

“Se alguém disser que, às vezes, conforme o progresso das ciências, se pode atribuir aos dogmas propostos pela Igreja um sentido diverso daquele que ensinou e ensina a Igreja: seja anátema.” (Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, 3ª sessão, 24 abr. 1870, Cânones, Sobre fé e razão, cân. 3: Dezinger-Hünermann, 3043).

3. Profissão de Fé

9) Nossa profissão de fé define nosso ponto de vista religioso e é o Credo Católico, acrescido, ao final, por três parágrafos de aprofundamento técnico-teológico:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus. E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há-de vir em Sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o Seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só baptismo para remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos, e a vida do mundo que há-de vir. Amém.

Creio também firmemente em tudo o que está contido na palavra de Deus, escrita ou
transmitida pela tradição, e é proposto pela Igreja, de forma solene ou pelo Magistério ordinário e universal, para ser acreditado como divinamente revelado.


De igual modo aceito firmemente e guardo tudo o que, acerca da doutrina da fé e dos costumes, é proposto de modo definitivo pela mesma Igreja.

Adiro ainda, com religioso obséquio da vontade e da inteligência, aos ensinamentos que o Romano Pontífice ou o Colégio Episcopal propõem quando exercem o Magistério autêntico, ainda que não entendam proclamá-los com um acto definitivo.”.

Acrescentamos ainda que ninguém é, e nem poderá ser, obrigado a obedecer qualquer autoridade que seja, e nem a aderir ao que, sob qualquer forma de autoridade, é imposto ou proposto, em tudo aquilo que seja prejudicial ou destrutivo da Fé Católica ou que ponha em risco a salvação eterna, tendo em vista que todos, pastores e leigos, estão subordinados à Lei Divina da qual a Igreja verdadeira e a legítima autoridade são fiéis guardiãs e infalíveis transmissoras.